Irremissível
- Menos 1
- Mar 21, 2020
- 1 min read
Daqui,
Os musgos formam nuvens rochosas,
Húmidas e verdes o quanto baste
Para paralisar qualquer rosto destinado ao perecimento irremissível.
É aqui neste suor gasoso
Onde os corpos pertencem,
Numa alucinação orgânica à disposição exclusiva do mundo
Por onde descem pedregulhos concretos,
Bolhas de espuma silvestre
Retidas nos galhos por debaixo da ferrugem da ponte.
Sinto que quanto mais proibida se torna esta ilusão sincopada,
Mais creio que nunca devíamos ter saído daqui para lugar que fosse.
Havíamos de poder renascer aqui,
Metodicamente nocivos como as ervas daninhas,
E tornarmo-nos lismos exuberantes
Ou água que nunca deixou de ser fresca,
Inalterada em toda a sujidade que lhe pertence por direito;
Adotar uma veneração indiscutível,
Primata e beatificada em todas as ordens acessíveis à carne e ao medo.
Os nossos ismos favoritos,
Adulterados e entupidos que nem carcaças
Diluem-se pela neblina até ao desconhecimento integral.
Passam-nos pelas costas
Toalhas quentes e facas escondidas nas mesmas.
Olho para o espelho e para ti
Sem saber o que vejo,
Com uma vertigem invertida que vai do chão aos limites do toque.
As hipóteses de contingência são
A colisão ou o retrocesso;
Implodir ou reflorescer a partir do pó;
Recomeçar o enquadramento diligente do quotidiano a todo o custo e propósito,
Confinados à disciplina da epidemia mais trivial e contemporânea,
Incorporada numa asfixia invisível e compartilhada involuntariamente.

Comments