top of page
Search

Distensão botânica

  • Menos 1
  • Apr 28, 2020
  • 2 min read

Updated: May 1, 2020

Numa distensão botânica irremediável, surge, como lágrimas numa lápide virgem, uma fuga individual à irascibilidade de uma multidão envilecida pela falta de perseverança em relação aos fenómenos inexplicáveis, de acordo com as leis dos factos matemáticos; até que uma floresta se intromete a favor da deserção impetuosa desta figura que se metamorfoseia em flor gradualmente, querendo tornar-se numa manifestação orgânica de plenitude, de revitalização plena das faculdades sociais e biológicas que lhe foram originalmente atribuídas à nascença.

Nesta perseguição embrutecida e sem objetivo concreto, senão o de uma anestesia coletiva, uma falta de pudor enraizada que se suprime através de uma divisão irracional de violência quando o rancor absoluto é a religião instaurada; esta monstruosidade incompreendida, vinda de uma sombra subespontânea do terceiro canto do quarto da própria casa, foge ao rancor de um estampido de febres mal esclarecidas, deixando rastos de gramíneas ornamentadas, pegadas daninhas, sementes germinadas milagrosamente, plantas descaídas e acaulescentes; desenhando um mapa de traçados desuniformes, cuja orientação requer uma febre amadurecida, pronta para aplicar uma busca minuciosa através da distinção dos cheiros e variações atmosféricas.

Todas as espécies animais circundantes, interrompem o decorrer das relações zoológicas para assistir à persecução deste sortilégio, pelos troncos horizontais das árvores que impedem os ninhos de cair no chão; por entre as folhas que escondem as presas mais rasteiras, na costa dos ribeiros cuja hidrólise constante suprime carcaças abandonadas de expedições e lutas selvagens pela sobrevivência.

E neste ecossistema deslumbrativo, cuja geografia peculiar ressalta uma área descampada; surge aí, um ajuntamento grotesco de pessoas, que circula o que resta do ser que aos poucos se torna num glossário extenso de flores exóticas, um bouquet rastejante que, antes de ser pisado pelo maioral do amontoado de gente gulosa por uma execução assistida, larga um último resquício de carne que se enfia num buraco situado no centro daquela área desabitada, cuja gordura e minerais se desabrocham em raízes, provocando o nascimento instantâneo de um jardim monumental, que petrifica a multidão perplexa num terramoto que a engole aos poucos para debaixo do solo como areia movediça, transformando as pessoas em insectos, para renascerem numa nova civilização a partir do zero.

Um ecossistema em puro equilíbrio, onde se torna evidente a quem lá passa, que a naturalidade é um método, cândido e primordial, de resistência.

Um testemunho de intrepidez inerente ao universo, que requer uma fé pela ordem natural das energias subatómicas que rodeiam todas as manifestações de perceção multidimensionais da vida como ela deveria ser.



Artista: Constança Duarte



 
 
 

Comments


Post: Blog2_Post
  • Facebook
  • Twitter
  • LinkedIn

©2019 by Menos 1. Proudly created with Wix.com

bottom of page