A Febre
- Menos 1
- Aug 9, 2019
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A distração confere anonimato ás pessoas que contornam a luz de quem morreu a tentar desintegrar as trevas enciclopédicas do coração do Sol.
Morreu com os olhos tapados de ódio; tinha tatuado na língua as marcas das trelas arrancadas à dentada. Mostrou o segredo proibido ao mundo, não se envergonhou da desistência da vida. Afogado na água do seu próprio pântano, esperou a pele enrugar, desenhou a paisagem que se formava nas gorduras que enrolam na crosta da pele. Reconceptualizou a bandeira que pedia sangue, mas deu-lhe cuspo até abrir, e injetou a podridão no corte. Espetada a agulha no coração da sorte, arrancou o tendão que se perdeu na chama. Conduziu o espaço, atropelaram-lhe o corpo. Forçado a trocar o seu mestre: o do globo e das pestes. Roubou os jardins amadores como se fode uma casa. Esperado o desalento, fez dele seu amigo, e reprotegeu-o com supercola.
Na contemplação mais cândida, podemos um dia, por mera coincidência estrelar, despir as carnes do cérebro, invadir um planeta novo, fazê-lo desaparecer na paisagem até perder os limites. Abandonar o conforto, assaltar o medo e atribuir-lhe pétalas cavernosas e facadas rígidas.
A partir desse dia, virei as costas ao mundo, com um desejo inesgotável que me seguisses até ao prédio. Que se formasse um vento, aromas e nuvens de um sexo pálido e invisível. Durmo acordado para me tirares a casca, como as cobras fazem à própria escama.
A penitenciária, de onde ele contemplava a estátua terrestre, parecia um museu; um projétil em arquitetura mutável até ao osso. Não sabia se seria fetiche ou defeito. Tinham-lhe inscrito até ao estômago todos os ancestrais de transgressão. Esperou que a gasolina chovesse, então aí, acendeu as velas para começar a missa do novo mundo. Antes que o mundo acabasse pelos seus próprios dedos, tiraram-lhe o texto inédito, arrancaram-lhe a partir da raiz. Empurrado para se perder na exploração do Universo como castigo. O mais estimado e circunflexo, a crescer repetidamente através da febre do desorgulho.

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