A dança
- Menos 1
- Apr 24, 2020
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Updated: May 1, 2020
Diante de um palco de sonho (onde claramente se figuraram antes dele: infernos glaciares, alucinações dissipadas no vento, aromas de auroras polares, inúmeros constituintes plasmáticos e noturnos de matérias expulsas há muito tempo do mundo das formas devido ao surgimento abrupto de estímulos excessivamente perigosos e consecutivos, incapazes de compactuar com a capacidade de qualquer misericórdia humana), uma boca de cena abre-se para revelar um ciclorama subatómico, que se transforma discretamente, numa atonalidade de espumas pluriformes que desaguam numa praia de pigmentos sonâmbulos, de modo a formar uma miragem clandestina e insubstituível.
A todo o momento, deixo-me propositadamente fundir num transe de desequilíbrios; numa queda infinita que me aprisiona os mecanismos cerebrais, e me deixa completamente absorto em átimos inesperados de imobilidade. Um desespero peculiar, cuja matemática respetiva, se desvanece a cada milissegundo de observação dos meus próprios movimentos bruscos e animalescos, que se concretizam em arrepios torrenciais, superiores a qualquer tentativa de controlo.
Colam-se gradualmente à paisagem: intermitências fantasmagóricas de inevitabilidades medonhas, que se derretem ao alto, em direção ao céu, para contrariar as índoles inauditas da natureza. Um trajeto abstrato de passos em falso que se conjugam numa autoflagelação policromática, deixam rasto de missões inconscientes (mas ordenadas) dos corpos extraordinariamente nebulosos.
Desde o núcleo deste intelecto dos prazeres expressivos, a metodologia de processamento de informação faz-se a partir das febres e das comichões adversas; alacridades que se acumulam em projeções vivas, de danças solenes e fugidias que se confundem num mergulho audacioso do espírito que declara morte ás leis da inércia visual.
Os remorsos que marcam o compasso deste abismo de cores, centrifugam-se para separar os elementos figurados de um percurso concreto de experiências irreparáveis, constelações densas e escorregadias, de uma atmosfera dividida homogeneamente por camadas dispersas pelo universo, por onde se espelham as distintas coreografias de prenúncio da morte em pessoa.
E neste relicário de gritos silenciosos, esconde-se um precipício por onde resquícios de imortalidades amarescentes aprendem a permanecer numa escuridão: imprescindível ao conforto fulgurante que resulta de uma harmonia de anticorpos disformes e paralisados, para assim se amplificarem no espaço sideral, e nos olhos que os petrificam perante uma galáxia desumilde e indiferente ás revelações misteriosas de um mundo em ruína ascendente.

Artista: Daniela Varela
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